sexta-feira, 13 de julho de 2007

Expresso a Paris


“Expresso a Paris” foi um dos temas da autoria de Fernando Farinha que ele não chegou gravar antes de sua morte. Estou aqui a publicar a cópia deste fado escrito pelo Fernando Farinha para que talvez um artista queira o divulgar e difundir o seu próprio repertório. Para mim foi sem dúvida uma fase importante na minha vida conhecê-lo e de ter o seu carinho...Belos Tempos.




.

EXPRESSO A PARIS

Lêtra e Música de Fernando Farinha


Entrei no comboio
De malas na mão
Destino Paris
Ou continuação

Lágrimas caindo
Lenços acenando
Um adeus à terra
Até não sei quando

Estremece o comboio
Começa a viagem
Um breve silêncio
Enche a carruagem

Só Deus sabe e entende
A causa importante
Do homem que parte
P’ra ser emigrante

O comboio apíta
Entra entra em velocidade
E quanto mais anda
Mais cresce a saudade

Perto da fronteira
Do país vizinho
Abrem-se cabazes
Há perfume e vinho

Depois do petisco
Fala-se da vida
Joga-se à sueca
E à bisca lambida

Já vai alta a noite
E o sôno sem vir
Quem pensa em futuro
Não pode dormir

Corpos contorsidos
Erguem-se de esperança
Está nascendo o sol
Já se vê a França

Às sete da tarde
Chegada a Paris
Adeus companheiro
Que sejas feliz

Assim se despedem
Lestos lá vão
Em busca da sorte
De malas na mão

Uns ficam ali
Outros mais além
Algum sem família
Outros, sem ninguém

Não há desventura
Mais triste e brutal
Que ser Português
Sem ter Portugal!

.

.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Nóbrega e Sousa


Carlos de Melo Garcia Correia Nóbrega e Sousa nasceu em Aveiro em 1913. O seu nome ficará eternamente associado como um dos mais importantes compositores da música ligeira em Portugal. Completou o Curso Superior de Piano do Conservatório e com apenas 15 anos de idade compôs a sua primeira obra musical. Aos 27 anos tornou-se o chefe da secção de música ligeira da Emissora Nacional e foi nesta altura que o seu primeiro grande éxito foi conhecido na voz de Maria de Fátima Bravo na composição Vocês Sabem Lá. Para Nóbrega e Sousa este foi o momento em que sempre sonhou. De ser o compositor aclamado e de ser procurado por cançonetistas , fadistas e mestres de orquestras. Nóbrega e Sousa escreveu músicas para o teatro de revista, filmes portugueses e compôs mais de 400 canções e fados. Escreveu para Francisco José, Tristão da Silva, António Calvário, Simone, Alberto Ribeiro e a Amália enormes éxitos como : Covilhã, Cidade de Neve , Padre Zé , Triste Sina , Ana Paula, Conclusão, Se Os Meus Olhos Falassem , Sol de Inverno, Da Janela do Meu Quarto, Lisboa é Sempre Lisboa, Procuro e Não te Encontro, Amigos Só e Nada Mais, Ou Tarde ou Cedo e Sou Alfacinha da Graça. Nóbrega e Sousa faleceu em Lisboa em 2001.Em 2003 a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu ao arruamento designado por Rua B, Malha 3, de acordo com o disposto na alínea v) do n.º 1 do art.º 64 do Decreto-Lei 169/99, de 28 de Setembro de 1999, o seguinte topónimo:
RUA NÓBREGA e SOUSA

MÚSICO

1913 - 2001

quinta-feira, 3 de maio de 2007

João Villaret


João Henrique Pereira Villaret nasceu em Lisboa em 1913 e depois de concluir seus estudos no Conservatório Nacional do Teatro estreou-se no Teatro Nacional D.Maria II em 1931 na peça “Leonor Teles”. João Villaret foi um dos maiores actores e, um dos maiores encenadores que conhecia a arte de preparar o cenário para representação. João Villaret foi sem dúvida o maior declamador por sua versatilidade nos diversos géneros de teatro desde o drama, comédia e poesia. Entre os seus éxitos se sua própria autoria encontram-se Senhor Estrangeiro, Leilão, Como é Diferente o Amor em Portugal, Balõezinhos e Recado a Lisboa. Anibal Nazaré, Nélson de Barros e Victor Almeida escreveram Fado Falado que João Villaret tornou eterno. Faleceu em Lisboa em 1961 apôs doença prolongada.
.
.
FADO FALADO

Aníbal Nazaré, Nelson de Barros e Victor Almeida
.
Fado Triste
Fado negro das vielas
Onde a noite quando passa
Leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz
Voz inspirada de uma raça
Que mundo em fora nos levou
Pelo azul do mar
Se o fado se canta e chora
Também se pode falar
Mãos doloridas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos plangentes
Mãos frementes e impacientes
Mãos desoladas e sombrias
Desgraçadas, doentias
Quando à traição, ciume e morte
E um coração a bater forte
Uma história bem singela
Bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão
E a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais virtude
Que a própria Rosa Maria
Em dia de procissão
Da Senhora da Saúde
Os beijos que ele lhe dava
Trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do mar
Eram bravios e salgados
E ao regressar à tardinha
O mulherio tagarela
De todo o bairro de Alfama
Cochichava em segredinho
Que os sapatos dele e dela
Dormiam muito juntinhos
Debaixo da mesma cama
Pela janela da Emília
Entrava a lua
E a guitarra
À esquina de uma rua gemia,
Dolente a soluçar.
E lá em casa:
Mãos amorosas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de desejo
Impacientes como um beijo
Mãos de fado, de pecado
A guitarra a afagar
Como um corpo de mulher
Para o despir e para o beijar
Mas um dia,
Mas um dia santo Deus,
Ele não veio
Ela espera olhando a lua, meu Deus
Que sofrer aquele
O luar bate nas casas
O luar bate na rua
Mas não marca a sombra dele
Procurou como doida
E ao voltar da esquina
Viu ele acompanhado
Com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, levião
Um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da orelha
E preso à boca vermelha
O que resta de um cigarro
Lume e cinza na viela,
Ela vê, que homem aquele
O lume no peito dela
A cinza no olhar dele
E o ciume chegou como lume
Queimou, o seu peito a sangrar
Foi como vento que veio
Labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal
A imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou
Que jurou e mentiu
Correm vertigens num grito
Direito ou maldito que há-de perder
Puxa a navalha, canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Há alarido na viela
Que mulher aquela
Que paixão a sua
E cai um corpo sangrando
Nas pedras da rua
Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
Mãos que o fado compreendem
E entendem sua dor
Mãos que não mentem
Quando sentem
Outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que castigam
Mas que sabem perdoar
E pouco a pouco o amor regressou
Como lume queimou
Essas bocas febris
Foi um amor que voltou
E a desgraça trocou
Para ser mais feliz
Foi uma luz renascida
Um sonho, uma vida
De novo a surgir
Foi um amor que voltou
Que voltou a sorrir
Há gargalhadas no ar
E o sol a vibrar
Tem gritos de cor
Há alegria na viela
E em cada janela
Renasce uma flor
Veio o perdão e depois
Felizes os dois
Lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou não
Falar-se o fado.

sábado, 28 de abril de 2007

Paulo Parreira, Na Frente da Fila


Paulo Parreira nasceu em Lisboa em 1970 e começou a tocar Guitarra Portuguesa aos 16 anos de idade. Entre os grandes fadistas que acompanhou destacam-se os nomes Argentina Santos, Beatriz da Conceição, Manuel de Almeida, Camané, Mafalda Arnauth e Rodrigo. Foi o guitarrista principal no Palco do Fado durante a Expo’98. Em 2001 formou o grupo instrumental Trinadus com João Veiga na viola, Anne Hermant em violoncelo e Maria Castro-Balbi em violino onde lançaram dois discos. Em 2004 formou o Trio D’Corda com Luís Pontes na guitarra clássica e Ricardo Cruz em contrabaixo. Paulo Parreira já gravou vários discos como solista lançados pela editora Estoril na série Lisboa, Cidade do Fado com João Veiga na viola e Joel Pina na viola-baixo. Realizou numerosas digressões pelo estrangeiro como guitarrista acompanhante de fado e é convidado para actuar em colobrações não relacionados com o fado como e exemplo Pavarotti & Friends. Ao escutar Paulo Parreira oiço uma pessoa que tem domino absoluto do seu instrumento, acordes distintos e perfeitos, e uma sonoridade de trinados nostálgicos de Armandinho, Raúl Nery, António Parreira juntamente com o seu próprio estilo. Na minha opinião Paulo Parreira é, no presente, o melhor executante da Guitarra Portuguesa por a sonoridade dos tons breves, semibreves, e diatónicos que emprega tanto nas composições de sua própria autoria como nas variações e musicas populares.

sábado, 17 de março de 2007

Maria da Fé


Maria da Conceição Costa Marques Gordo nasceu no Porto em 1945 e sonhou de ser fadista desde os nove anos de idade. Apresentou-se e venceu um concurso de cantadeiras amadoras quando tinha 14 anos, o que venceu, e antingiu a sua estreia em palco no Teatro Vale Formoso do Porto. Quando tinha dezoito anos mudou-se para Lisboa e começou a cantar em casas de fados principalmente na Adega Machado e no Casino de Estoril. Em 1967 lançou o seu primeiro disco dedicado somente a fado em que realizou bastante sucesso com os temas Valeu a Pena e O Primeiro Amor. Durante os anos dos 70s o seu nome é reconhecido a nível nacional e nos continentes da Asia, America do Súl e em toda a Europa. Maria da Fé alcançou o seu maior sucesso discográfico com “Cantarei Até Que A Voz Me Doa” nos anos dos 80s e também com outros éxitos como: Pode Ser Mentira, Divino Fado, Obrigado, Vento do Norte e Fado Errado. Hoje Maria da Fé continua na gerência do seu restaurante típico Senhor Vinho e faz parte do elenco Entre Vozes junto a Alice Pires, Alexandra e Lenita Gentil. Foi e é uma grande fadista bem castiça.

sábado, 10 de março de 2007

Ercília Costa


Ercília Costa, a artísta que é distinguida como a primeira estrela internacional do Fado de Lisboa, nasceu na Costa da Caparica em 1902. Ercília Costa aprendeu e trabalhava no ofício de costureira para um alfaiate na Rua da Escola Politécnica mas tinha um sonho de cantar e de ser artísta. Em 1918, por conseguinte de um anúncio pela Conservatória de Lisboa apresentou-se para a audição em que procuravam cantores. Ercília Costa foi escolhida mas a récita acabou por não se realizar no local previsto do Teatro de São Carlos e resumiu a sua vida habitual. Em 1925 Ercília Costa já era conhecida a nível nacional e tinha o cognome de “A Santa do Fado” por sua aparência no palco e sua maneira pessoal. Por este próprio motivo havia um jornal de padres em Lisboa por nome “A Voz” em que os padres mandaram-lhe comparecer para auferir do nome de Santa. Em entrevista da RTP Ercília Costa respondeu aos padres, “Eu sei que não sou Santa. Até sou casada, nunca vi nenhuma Santa casada. É o povo quem me chama Santa. O que é que eu posso fazer?”. Por essas alturas Ercília Costa cantava em várias casas típicas e retiros entre eles O Ferro de Engomar e o famoso Café Luso que era dirigido pelo Armandinho que foi o guitarrista que a acompanhou nas suas primeiras gravações em 1929. Em 1939 Ercília Costa actuou no Pavilhão Português na Feira Mundial em Nova Iorque e desta representação nos Estados Únidos permaneceu marcante como a primeira fadista internacional. Actuou também em Hollywood e acabou de assegurar amigos entre eles Bing Crosby, Cary Cooper e Joe Dimaggio. Durante os anos dos 40s Ercília Costa continuou a cantar no Café Luso e em 1952 actuou no filme de Perdigão Queiroga “Madragoa”. Retirou-se da vida artística em 1954 e faleceu na sua casa em Algés em 1986

sexta-feira, 9 de março de 2007

Alberto Ribeiro


Alberto Ribeiro nasceu em Ermesinde em 1920, foi actor de cinema, tenor e fadista. Foi um cantor que fácilmente atingia as notas escritas com um timbre soave e forte. Gentil, paciente, bom colega e humilde são algumas palavras que definam o seu jeito pessoal. Actuou ao lado da Amália no filme “Capas Negras” com a inesquecível cancão de Raúl Ferrão “Coimbra”. Nunca foi divulgado publicamente as razões do seu afastamento dos palcos e microfones desta voz inigualável e única. Alberto Ribeiro deixou-nos poucas gravacões mas das poucas existentes provam que foi um cantor maravilhoso e conquistou enormes éxitos entre eles: Coimbra, Adeus Lisboa, Carta do Expedicionário, Serenata dos Olhos Verdes, Marco do Correio, Última Carta e o Fado Hilário. O magnânimo e inconfundível, que o público não o esquece, Alberto Ribeiro faleceu em 2000.